terça-feira, junho 26, 2007

Cursos de Verão na UNL


Têm-se visto muitas universidades de Verão, mas poucas com uma adequação tão perfeita entre a estação do ano e a matéria leccionada.

segunda-feira, junho 25, 2007

Resumo da manhã informativa

Situação muito complicada no IC 19 e no Sul do Líbano.

quinta-feira, junho 21, 2007

Depois de ler a resposta da Helena Matos (hoje) a este texto do Rui Tavares, a gente começa a imaginar se o título do blog dele é alguma piada sobre ela.

terça-feira, junho 19, 2007

Tesourinhos deprimentes: «isto é uma mais-valia»


Helena Roseta a celebrar o Santo António, que já tinha celebrado ontem. Isto chegou-me por email.

Isto demora


Marina Hands, em quem toda a gente reparou

A adaptação francesa de O Amante de Lady Chatterley, que se estreou há dias, merece a atenção que se lhe tem estado a dar. A primeira coisa que me surpreendeu foi a forma como é filmada a natureza: flores, plantas, chuva, talvez insectos e bichos (não me lembro). É uma maneira muito incomum, porque geralmente tem-se demasiado medo de ser piroso. Mas a cineasta francesa capta com muita justeza a concepção «quase panteísta» (a expressão é do Mexia, no ípsilon de sexta) presente naquele amor, a forma como o deslumbramento amoroso dos dois é intrinsecamente sexual, portanto físico, portanto em comunhão com a natureza.

A segunda coisa é a relação entre os protagonistas, amantes, a forma como evolui. O filme é longo: tem mais de duas horas e meia. Mas é longo porque é lento, e é lento porque a lentidão faz falta ao desenvolvimento da relação entre as duas personagens: uma relação em que muitas coisas se passam sem serem ditas. Imagino que fosse possível fazer avançar a «acção» mais depressa se mais coisas fossem postas em palavras; mas, para que aquele amor funcionasse, era importante que as coisas fossem sobretudo mostradas, vistas, não-ditas. Se o filme é longo, é por uma boa razão: parece-me merecedor dos muitos elogios e prémios que tem recebido.

segunda-feira, junho 18, 2007

Uma forma de batota

Duas ou três semanas atrás, eu comprei o Público, como faço aos sábados e apenas aos sábados. Mas, nesse dia, o artigo mais interessante não era a crónica do Mexia nem o texto do Pacheco Pereira, como costuma ser, e sim uma entrevista no P2 com um psicólogo de Harvard sobre o mais improvável dos assuntos: a felicidade. Dava-se a circunstância de nessa mesma semana o dito psicólogo (Daniel Gilbert) vir a Lisboa, à Culturgest, falar sobre o tema, no âmbito de um seminário sobre A busca da felicidade. Registei na agenda.

E foi, de facto, um excelente seminário, bem organizado, com uma série de oradores de topo na matéria em questão. A conferência de Daniel Gilbert foi, muito simplesmente, a conferência mais estimulante, divertida, entretinente a que eu alguma vez assisti: uma hora como se fosse um concerto de música pop, e realmente havia qualquer coisa de pop na personagem. O livro, que encomendei na amazon, chegou hoje. Li até agora apenas o prefácio: todas as frases são divertidas, o que por outro lado, de certa maneira, até aborrece. Sinto-me incapaz de elaborar juízos críticos, literalmente subornado pelo sentido de humor.

Também já está à venda na fnac, no original, e até com uma tradução portuguesa.

quinta-feira, junho 14, 2007

Orquídea selvagem

[ou Let's start a magazine]

Gostei realmente muito do texto autobiográfico de Rorty, de tal forma que me apeteceu traduzi-lo. Mas seria preciso fundar uma revista para o publicar, e isso é que já dá mais trabalho.

I am sometimes told, by critics from both ends of the political spectrum, that my views are so weird as to be merely frivolous. They suspect that I will say anything to get a gasp, that I am just amusing myself by contradicting everybody else. This hurts. So I have tried, in what follows, to say something about how I got into my present position - how I got into philosophy, and then found myself unable to use philosophy for the purpose I had originally had in mind. Perhaps this bit of autobiography will make clear that, even if my views about the relation of philosophy and politics are odd, they were not adopted for frivolous reasons. [continua.]

quarta-feira, junho 13, 2007

Assim foi Gena Rowlands


Uma resposta sombria a E Deus Criou a Mulher. O que Deus faz, Deus desfaz.

Hollywood


Na versão de Hollywood do blog Estado Civil, Ryan Gosling fará o protagonista.

terça-feira, junho 12, 2007

Rorty, da ironia


Não foi pelos jornais, mas pelo Rui Tavares que me dei conta da morte de Richard Rorty, filósofo americano, pragmatista, aqui há dias. O Guardian traz hoje um excelente obituário.


Rorty certainly delighted in being provocative, even claiming that, despite George Orwell's famous "freedom is the freedom to say 2 + 2 = 4", the only real problem with Winston (in Nineteen Eighty-Four) coming to believe that 2 + 2 = 5 is that the belief is induced by torture, truth being irrelevant.


Também gostei muito de uma carta de um leitor que aparece no blog de Andrew Sullivan, estabelecendo afinidades entre Rorty (um social-democrata) e o conservadorismo de Oakeshott.


For most on the right, Rorty is merely a symbol of the country's slow slide into post-modernism and relativism. You avoid that stupid sticky brush, but still do not give him enough credit. Your political conclusions may have differed, but your underlying commitments are very much the same. Rorty was a progressive and a liberal, but he was your kind of liberal.


O texto do Los Angeles Times tem um tom amargo, mas inclui esta definição:

Rorty had an astonishing combination of cynicism and idealism, a quality he called «irony».

Pelo aspecto pessoal, vale a pena ler a nota de Habermas.

I received the news in an email almost exactly a year ago. As so often in recent years, Rorty voiced his resignation at the "war president" Bush, whose policies deeply aggrieved him, the patriot who had always sought to "achieve" his country. After three or four paragraphs of sarcastic analysis came the unexpected sentence: "Alas, I have come down with the same disease that killed Derrida." As if to attenuate the reader's shock, he added in jest that his daughter felt this kind of cancer must come from "reading too much Heidegger."

Que eu saiba, há dois livros de Rorty editados em Portugal. Um é A Filosofia e o espelho da natureza, o livro que, em 1979, o fez famoso. Diz Rorty que essa obra teve sucesso porque foi vista como uma espécie de sequela a A Estrutura das Revoluções Centíficas, de Thomas Kuhn (sem edição portuguesa) – e foi precisamente por essa ordem que me veio parar às mãos. Não sei se a tradução portuguesa é aceitável (não li), mas estava na semana passada à venda, com uma capa bonitinha, no pavilhão de saldos da Dom Quixote na feira do livro de Lisboa, por 5 euros. O outro livro é Contingência, Ironia e Solidariedade (1989), que faz a ligação entre as convicções de Rorty sobre a natureza do conhecimento e as suas convicções políticas, através do conceito de ironia. É também, ao mesmo tempo, uma defesa da ficção, da literatura, do cinema, e de uma concepção das Humanidades que não faz distinções entre disciplinas nem tem ambições «científicas». Infelizmente, a tradução portuguesa, da Presença, é mazinha, dá o seu trabalho a decifrar. É o género de tradução que se lê fazendo mentalmente o trabalho de tradução ao contrário: tentando descobrir o que é que o autor teria escrito no original, e que com a pata do tradutor resultou assim.

segunda-feira, junho 11, 2007

Justiça poética

No post anterior, sobre coisas descuidadas, mal-escritas, aparece, apropriadamente, uma gralha: «granjeado», e não «grangeado». Aliás, não é bem uma gralha, porque não foi lapso: eu não tinha era a mínima ideia.

Difícil amar a pátria

Numa das primeiras cenas de Zodiac, um policial neste momento em exibição nos cinemas, um personagem grita, segundo as legendas da versão portuguesa: «Fodão-se e morram!»

Em 1982, o historiador britânico Antony Beevor publicou uma História da Guerra Civil de Espanha, que teve tradução em português. Posteriormente, o mesmo autor publicou vários livros de história sobre batalhas decisivas da II Guerra Mundial, designadamente Estalinegrado e a queda de Berlim, que estão ambas traduzidas em Portugal. No ano passado, Beevor refez, com base no conhecimento hoje disponível dos arquivos soviéticos, a sua História da Guerra Civil de Espanha, que em consequência praticamente duplicou de tamanho. Esta obra foi considerada um dos livros do ano por diversas publicações internacionais. Aproveitando a ocasião, e o prestígio grangeado no mercado nacional pelos livros sobre Estalinegrado e Berlim, o editor português resolveu republicar a edição de 1982, sem nenhuma espécie de esclarecimento e sem nenhuma melhoria na tradução - ao que me dizem, péssima. Esta é portanto a única versão disponível em português, que é vendida, por um balúrdio, como se fosse nova. Podemos sempre ler a tradução espanhola (ao que se diz excelente) da edição refeita. Assim farei.

O livro de Raimundo Narciso sobre a dissidência do PCP em 1988-91, publicado pela Âmbar, é uma obra curta, dividida em três partes (contexto-crise-epílogo), a última das quais ocupa um total de dez páginas. O livro tem os seus méritos, de que falarei noutra altura, mas é também uma floresta desordenada de vírgulas, que só se consegue ler com esforço. Está ilustrado por várias fotografias, todas a preto e branco e todas, sem excepção nem para a capa, muitíssimo mal impressas. Está ao dispor nas livrarias contra a módica quantia de 20 (vinte) euros.

Audio edition

Quem vive na periferia tem a vantagem de passar muito tempo em comboios, barcos ou outros transportes públicos agradáveis, que oferecem condições perfeitas para ler. Quem, como eu, vive no centro da cidade não tem a mesma sorte, e pode acabar por ser difícil dar conta do Economist numa só semana. Conheço gente que aproveita as folgas para se meter em comboios, tentando ler alguma coisa de seguida. Deve ter sido a pensar nestes que o Economist se lembrou agora de criar uma edição audio. Eu ando muito a pé, com a revista a falar-me ao ouvido. Não é tão bom como ler. É talvez parecido com a experiência da leitura rápida, perde-se um bocado do prazer e uma parte do sentido. Mas a verdade é que, por via auricular, esta semana «li» muito mais coisas do que habitualmente. Estes foram os meus favoritos da semana.

quarta-feira, junho 06, 2007

Adoro o campo

A secção de cartas do Economist vale, só por si, o preço da revista.

SIR – Your special report on cities overlooked the environmental benefits they provide (May 5th). For instance, cities are more energy efficient to live in than the countryside. I spent seven years living in London, in which I drove an average of 5,714 miles a year mainly visiting family in Norfolk. Last year, to be closer to that family, I moved to a rural village close to Norwich. Since then, I have driven 10,000 miles in just one year. Villages and rural communities lack economies of scale and are incapable of delivering the same network effects as cities. They are inherently inefficient, evidenced by their under-used post offices, bus services, schools, branch railway lines and "cottage" hospitals.
The state should no longer subsidise the private pursuit of Arcadia through expensive public services for remote and sparsely populated areas. Instead, the countryside should be considered a luxury—reserved for wildlife, unmanned agricultural vehicles and electric coaches full of gawking tourists. We should abolish villages and make everyone live in towns of at least 25,000 people.

Huw Sayer
Norwich

domingo, junho 03, 2007

Como falar de livros sem os ler

[ou: Como não falar de livros sem os ler?]



O pacote de dezassete livros expedidos de Deli a 10 de Fevereiro, por mar (mas o mar não é em Deli), ao preço da chuva, chegou finalmente. No geral, em bom estado. A outros, aconselho que metam os livros num pacote de cartão, e não em sacos de plástico; o resultado será melhor. Por sobre o plástico, a embalagem de pano foi cosida à mão por um funcionário dos correios de Deli, e revelou-se bastante resistente. O trajecto que estes livros terão feito dava uma boa história: é olhar para o mapa e começar a imaginar. Livros sobre a Índia (os Naipaul, dois romances do Rushdie, Dalrymple, etc.) e livros que não têm nada que ver com a Índia mas eram baratos (os três volumes de história do século XIX de Hobsbawm, um livro de Julian Barnes sobre os franceses, etc.). E livros que comprei porque a livraria era boa, surpreendente, não muito barata para padrões indianos, mas alguma coisa havia que comprar. Foi o caso deste Sven Lindqvist, autor de Exterminem todas as bestas (Caminho), numa livraria pequena e maravilhosa em Deli.
O livro - e é o primeiro caso que eu conheço assim - não tem numeração de páginas. Tem entradas, um pouco menos de quatrocentas. Da entrada nº1 remete para a 163 (ou coisa parecida), depois para a 48, e por aí adiante, até chegar ao fim, até onde não há mais sequência de entradas, ou onde se regressa à entrada nº1. Pode ler-se por esta ordem (parece que é cronológica, se vi bem), mas também se pode ler sequencialmente pela numeração (de 1 para 2 para 3, etc.), e nesse caso a organização é temática ou «associativa». E, claro, também se pode ler por outra ordem qualquer, simplesmente experimentar entradas ao acaso, folhear. Até agora, foi o que fiz.

A minha referência sobre Lindqvist era um texto muito entusiástico de Mega Ferreira sobre esse outro livro publicado na Caminho. Na minha cabeça, A History of Bombing arrumou-se junto de On the Natural History of Destruction, de Sebald (que também não li).

O funcionário dos correios de Deli

Esperámos uma hora e meia de uma manhã de chuva, na estação dos Correios, pelo funcionário que viria preparar a embalagem. Era o único competente para desempenhar a missão. Cortou e coseu durante meia hora. Despedi-me dos livros como se estivesse a pagar para os deitar para o lixo.








Mas chegaram até aqui.

sábado, junho 02, 2007

Tardes de sábado



Pedro Lomba diz que a revista do NYT é «talvez a melhor revista do mundo». Cá está: a sempre arreliadora gralha. Quer dizer, a revista do Financial Times é certamente uma das melhores do mundo. Estou de acordo com ele. O FT magazine, que ainda não percebi há quanto tempo existe nem com que periodicidade sai, aparece de vez em quando com o jornal de sábado (não confundir com o suplemento How to spend it). Inclui muitas das secções do magnífico caderno de todos os sábados, Life&Arts, designadamente ótimas recensões, a entrevista ao almoço, a coluna Dear Economist, etc. Mas é em formato revista, é um magazine, como esses que ao domingo os jornais publicam, só que em bom, bem escrito e com boas ideias. «How to judge a book by its cover» é talvez a secção de que eu gosto mais: vejam, por exemplo, este texto sobre esta capa.

The cover of The Year of Magical Thinking is much like Didion's prose: austere, elegant and direct. On an ivory background, seven words appear in slender black capitals, arranged in five lines.
The font, Hoefler's version of Didot, adds to the sense of refinement.
Look again and a few of the letters emerge as blue, not black: the J in Joan, the O in Didion, the H and the N in thinking. The ghostly trace of Didion's beloved husband John Gregory Dunne - whose death and its aftermath are the subject of this memoir - haunts the cover as much as it does the pages that follow.
The designer, Carol Devine Carson, told me that this was her first and only concept («The JOHN letters were grey at first, but Joan wanted a bit of colour»). When I mentioned how miraculous it was that the letters of the name happen to fall in this order, she said: «I just saw the name unveil itself, like someone speaking to me.»
Graphic designers need great visual instincts, but they have to be word people too. Carson's cover is brilliant, yet risky. Many people don't see it.
As Carson said: «There are still a few people in this building who may have just found out the secret message. Subtle, yes. But I think that fits the book, really.»

sexta-feira, junho 01, 2007

Morrer por morrer

Nas caixas de comentários dos posts de O Céu sobre Lisboa sobre São Paulo e o Rio de Janeiro (que me deixam com um nó na garganta), discute-se a segurança, vexata questio. «Não é uma cidade segura», diz um. «É tão inseguro como andar à noite no Bairro Alto», diz outro. «Aliás, no outro dia eu ia morrendo no Bairro Alto.» Pouco sei da insegurança no Rio (e mesmo no Bairro Alto). Mas impressionou-me esta imagem: morrendo no Bairro Alto. Desculpe: no Bairro Alto? Metam-me num avião para Copacabana. Entre morrer no Rio ou no Bairro Alto, eu não hesito.